A Empresa, a Orquestra e o Jazz

20/04/2016 08:38

A existência de similaridade entre uma empresa e uma orquestra pode ser verificada, de antemão pelo significado de cada uma das palavras:

Enquanto para orquestra uma das definições a descreve como um Conjunto de todos os músicos instrumentistas que executam uma página sinfônica” para empresa temos: “Empreendimento, cometimento, negócio”

A princípio, pode parecer que a segunda definição inspira a primeira, no entanto, é na prática que podemos observar que não se trata disso. O que mais assemelha as duas atividades são: o “mecanismo de formação” e a “busca do sucesso”.

Assim, é fundamental que exista liderança e direcionamento. Na orquestra essa missão cabe ao maestro e na empresa ao presidente (CEO). E, da mesma forma que o primeiro violino, o Spalla, deve estar sempre atento aos movimentos e sendo solidário ao maestro, nas empresas, Diretores e o CEO devem também cultivar e manter uma grande relação de confiança.

É primordial também que se conte com muitas pessoas preparadas, mas que haja apenas um time. Na orquestra cada músico tem sua história de estudos, dedicação, treinamentos e desafios pessoais, mas ao lado de seus pares ele deve entender que faz parte de uma organização, de um conjunto que está muito acima das individualidades. Não devem haver diferenças no sentimento do pertencer, mas todos precisam entender que os subconjuntos (violinos, flautas, saxofones, tímpanos etc.), carecem de um relacionamento intenso para que a orquestra realmente exista. Quando nos reportamos às empresas isso se aplica também às divisões menores (gerências, departamentos, superintendências, etc.). Não há empresa se não houver sinergia entre os diversos departamentos.

Entretanto, boas lideranças, bom direcionamento,  pessoas preparadas, sinergia não são o suficientes para que se garanta o sucesso de uma orquestra ou de uma empresa, a receita necessita ainda de outros ingredientes: A confiança entre comandantes e comandados, por exemplo, que atua como catalizadora.

Numa orquestra os músicos deve ter confiança incondicional no maestro. Ao movimento de sua batuta ou de sua mão esquerda, alteram-se compassos, destacam-se cordas ou silenciam-se momentaneamente os metais. Da mesma forma, na empresa, a confiança dos Colaboradores no CEO será sempre um fator crítico de sucesso.

Se é praticamente impossível a um maestro traduzir a sensibilidade e beleza da música sem que haja os músicos, para o CEO a situação não é diferente: Ele jamais conseguirá produzir sozinho o conhecimento, o diferencial competitivo e a riqueza que a organização necessita para se perpetuar.

Para atuar, talvez, como a cereja do bolo, mais um ingrediente: a harmonia que vem pela convivência pautada pelo estudo incansável, pela correção dos erros e comemoração dos acertos, pela busca de objetivos e acima de tudo pelo respeito às qualidades individuais. Isso necessariamente deve ser arquitetado por aqueles que têm a “batuta”, na orquestra ou a “caneta” nas empresas. Eles devem ter a capacidade de enxergar simultaneamente, pelo menos três dimensões: a parte, todo e o clima organizacional.

Lideranças míopes não conduzem equipes a parte alguma, por mais que individualmente existam qualidades extraordinárias.

Uma empresa ou uma orquestra podem, quem sabe, ser algo se assemelhe a um complexo quebra-cabeça com um grande número de peças diferentes (violinos ou departamentos, saxofones ou superintendências, tímpanos ou gerências) que, individualmente parecem meio sem sentido, ou desconexas. É só depois de termos colocado, cada peça no seu devido lugar que, nos damos conta da beleza da imagem e da mensagem, que o conjunto quer nos transmitir.

Por fim, é importante registrar que a ENAP – Escola Nacional de Administração Pública, em seu curso de “Analise e Melhoria de Processos” no caderno de leituras complementares, lança uma nova provocação que já vai além da Empresa e da Orquestra. Não se trata de uma de contraposição ao assunto aqui tratado, já que o dinamismo das organizações deve sempre estar aberto à evolução:

“....poder-se-ia dizer que o futuro de Drucker está a 70 anos do Fordismo, a 30 do Toyotismo e alguns meses do Volvismo. Mas talvez o modelo de organização do futuro esteja ainda mais próximo de uma banda de jazz. Uma forma musical surgida no século XX, caracterizada pela utilização de escalas africanas com harmonias europeias, pela pequena ou quase nenhuma importância do maestro – substituído pela primazia do senso comum......”

Considerando que seja mesmo verdade a frase atribuída ao professor Marins Commit: “Mudar, a única certeza estável”, vale a pena prestar atenção nessa provocação.

 

Por: Abilio de Moraes Paiva